A ideia de pesquisar sobre o tema Medo em Jogos digitais surgiu de uma experiência familiar, da observação, com o passar dos anos, das minhas filhas e da forma com que elas lidavam com o medo cotidianamente. Tenho duas filhas, Julia (14 anos) e Bianca (9 anos). Quando mais novas, ambas sempre foram muito medrosas: o medo do escuro, de monstros e de fantasmas aterrorizavam-nas. Por isso, sempre evitei me entreter com jogos e filmes de suspense e terror quando elas estivessem por perto.
Em 2015, minha atenção foi totalmente absorvida pelo jogo do ano, The Witcher 3 – Wild Hunt. No começo sempre joguei após elas dormirem, com o fone de ouvido para não acordá-las. Todavia, por mais cuidado que tomasse, sempre me assustava quando uma delas chegava de mansinho enquanto eu enfrentava um caniçal ou uma aparição. Depois de quase morrer no jogo, quase morria do coração com uma garotinha com seu cobertor ao meu lado: “Nossa pai, o monstro quase te venceu, mas no final você matou ele”.
Imagino que o fato de elas me observarem jogar, enfrentar os monstros e fantasmas do jogo, de ter a possibilidade de reagir ao perigo, permitiu que elas não sentissem mais tão grande medo. Tanto é que não só não apresentaram mais dificuldades para dormir, como também, juntas com minha esposa, passaram a acompanhar toda a jornada do personagem Bruxeiro Geralt de Rivia e sua a história cativante, ainda que com muitos monstros e fantasmas.
Em 2016, acompanhamos a série Stranger Things, sempre escondidos de minhas filhas para evitar que tivessem problemas ao dormir. No último episódio, ansiosos pela resolução da trama, eu e minha esposa esperamos as meninas dormirem para finalizar a aventura. O monstro da série ainda mal tinha aparecido, a não ser por vultos. Durante o suspense de uma das cenas em que o monstro aparecia por trás da parede, ouvimos um grito abafado: lá estavam elas nos espreitando pelo vão da porta. Assustamo-nos mais com as duas pequenas do que com a cena. Não deu tempo de pausar o episódio e o monstro foi revelado. Para nossa surpresa, minha filha mais nova disse: “O monstro do seu joguinho, dá mais medo que esse”.
Essa pequena experiência com minhas filhas permitiu observar in loco como podemos superar uma fobia. Confesso que na época não havia compreendido completamente o processo que havia presenciado, mas fiquei com a ideia na cabeça. No ano seguinte, em 2016 durante as aulas de roteiro na FAAP, onde cursei a graduação de Cinema de Animação, criei um roteiro e um curta de animação baseado no tema Medo do Escuro.